Sérgio Mateus Goitoto, caingangue da reserva de Mangueirinha, vai se formar no ano que vem em Serviço Social pela UEPG.
Indígenas ingressam no ensino superior dispostos a ajudar suas comunidades ou conseguir melhor colocação no mercado.
Estudantes indígenas conseguem vencer a barreira do preconceito, a dificuldade de adaptação cultural e a saudade da família para cursar uma faculdade. Todo ano, as sete universidades estaduais e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) abrem vagas suplementares para os estudantes vindos das reservas indígenas do estado e do país. Neste ano, o vestibular especial ocorre na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e as inscrições já estão abertas.
Sérgio Mateus Goitoto, 44 anos, vai se formar no ano que vem em Serviço Social pela UEPG. Ele é caingangue e veio da reserva de Mangueirinha, no Sudoeste do estado. Para ele, a escolha pelo curso foi fácil. Goitoto, nome que na língua indígena significa borboleta na água, cursou três anos de Serviço Social numa faculdade privada de Mangueirinha, mas desistiu no último ano por falta de recursos financeiros para manter os estudos. Com a bolsa-auxílio da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), ele pôde largar o emprego que mantinha em Mangueirinha e mudar-se para Ponta Grossa para fazer a faculdade pública. Neste ano, conseguiu trazer um dos filhos, que também foi aprovado no vestibular indígena e cursa Letras. Goitoto só volta para casa nos feriados prolongados e nas férias. “É muito difícil, o índio é muito apegado com a família”, acrescenta.
Por causa disso, o estado tem bolsas-auxílio diferenciadas para solteiros e casados. Os solteiros recebem R$ 633 e os casados, R$ 949. O professor de História e coordenador do 11.º Vestibular dos Povos Indígenas, José Roberto de Vasconcelos Galdino, lembra que um dos motivos de evasão escolar é a dificuldade de adaptação. “Muitos trazem a esposa e os filhos para morar juntos enquanto estão cursando a faculdade”, aponta. Hoje a UEPG tem 16 alunos indígenas.
“O recurso é bom, porque a gente recebe vale-alimentação e vale-transporte também, mas os gastos são muitos, com aluguel, roupa e xerox”, completa Goitoto, que fala que ainda enfrenta barreiras. “Já senti preconceito dos estudantes e até de alguns professores, porque nossa cultura é diferente”, explica.
Galdino, porém, lembra que as universidades mantêm comissões de acompanhamento desses estudantes.
Dados
Segundo o censo da educação superior de 2009, o mais recente divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), o Paraná tinha 236 alunos indígenas matriculados no ensino superior. Para discutir a presença indígena nas universidades, a Comissão Universidade Para os Índios (Cuia) desenvolve nos dias 14, 15 e 16 de setembro o 3.º Encontro de Educação Superior Indígena no Paraná no Setor Litoral da UFPR, em Matinhos. Entre os temas em debate estão a educação básica e superior de indígenas, os desafios às políticas afirmativas e a integração com os alunos não indígenas.
Seleção
Estão abertas até o próximo dia 14 de setembro as inscrições para o 11º Vestibular dos Povos Indígenas no Paraná. As provas serão feitas nos dias 14 e 15 de dezembro na UEPG. Os interessados devem se inscrever até 14 de setembro, pelo www.cps.uepg.br/vestibularindigena. A inscrição é gratuita.
Como funciona
O vestibular indígena foi instituído em 2007. Ele não é um sistema de cotas étnico, mas sim um processo seletivo especial. Saiba mais detalhes:
Vagas
São ofertadas seis vagas em cada universidade estadual, somente para indígenas do estado, e dez vagas na UFPR, para indígenas de todo o Brasil.
Inscrição
Para ter sua inscrição aceita, além dos documentos pessoais, o indígena precisa apresentar uma carta de recomendação assinada pelo cacique de sua reserva ou pelo representante da FUNAI de sua região.
Provas
São dois dias de prova. No primeiro, o candidato passa por uma prova oral em Língua Portuguesa. No segundo, faz uma redação e responde 40 questões de Língua Portuguesa, Inglês ou Espanhol, Língua Indígena, Biologia, Física, Geografia, História, Matemática e Química.
Escolha do curso
Após a aprovação no vestibular, o indígena escolhe o curso que deseja fazer. Se ele não se adaptar em até dois meses, pode pedir a transferência.
Deveres
Assim como os demais estudantes, ele tem de cumprir 75% de frequência e média 7 para passar de ano.
Bolsa
O estudante indígena recebe ainda bolsa-auxílio de R$ 633 (para solteiros) e R$ 949 (para casados e com filhos).
Fonte: Gazeta do Povo
